‘Esta história só serve para criança que simpatiza com coelho’, comenta Clarice Lispector logo nas primeiras linhas, como se fosse possível alguém não gostar desses pequenos roedores de cenoura. Ainda mais se ele for o Joãozinho, um coelhinho de pêlo branquinho muito especial que, com seu estilo caladão, surpreendeu a todos quando cheirou uma incrível ideia tão boa quanto cenoura fresquinha.
Como todo coelho, Joãozinho franzia o nariz muito depressa quando estava cheirando, ou melhor, pensando em algo importante. Num desses dias em que a barriga estava roncando uma ideia lhe surgiu à cabeça: fugir da casinhola de grade de ferro sempre que esquecessem a sua comida.
Na verdade, a fuga também seria uma boa oportunidade para Joãozinho saber como era a vida do lado de fora. Tinha muita vontade de curtir a natureza e fazer novas amizades. Enfim, dar umas coelhadas por aí. Foi então que ele franziu o nariz mais depressa para pensar. Franziu e franziu milhares de vezes até descobrir finalmente uma maneira de escapar.
A estratégia deu tão certo que Joãozinho nunca mais ficou sem cenouras. Só que esse coelhinho tomou gosto pela liberdade e, mesmo com comida em abundância em sua gaiola, farejava um jeito de escapar, deixando a garotada da vizinhança encasquetada, tentando descobrir como podia um coelho tão gordinho de tanto comer cenouras sair através de grades tão apertadas? Aí está um grande ‘mistério’… que, na opinião da autora, ‘só acaba quando a criança descobre outros mistérios’.