‘Sempre que me acontece alguma coisa importante, está ventando’, costuma dizer Ana Terra, que reside com os pais e os dois irmãos numa estância erma do interior gaúcho, na segunda metade do século XVII. O cotidiano dos Terras é duro, penoso, arriscado. Tiram sustento da colheita. Calculam a passagem do tempo observando a natureza. Vivem sob o perigo de ataques de índios ou de renegados castelhanos, estes últimos recentemente expulsos do Continente de São Pedro. Ana Terra, última filha mulher, é impedida de comprar um espelho, ‘coisa do diabo’, objeto fútil nesse ambiente austero. Sem ter onde se mirar, só pode contemplar sua figura na superfície do regado onde lava a roupa da família. É nesse regato que ela depara com Pedro Missionário, ferido à bala. Mestiço de índio nascido numa missão jesuíta, Pedro lutara ao lado dos estancieiros pela expulsão dos castelhanos. Após restabelecer a saúde, pouco a pouco vence a desconfiança dos Terras e a repulsa de Ana, para quem sua ‘presença era tão desagradável como a de uma cobra’. Sem perceber, a moça enamora-se de Pedro, uma atração trágica e irresistível que muda a vida da família Terra para sempre.